O mosteiro de São Cristóvão de Rio Tinto, extinto em 1535, apresenta algumas particularidades dignas de nota. Desde já a sua fundação levanta alguma incerteza sabendo que existem algumas opiniões divergentes. Por um lado, Albano Magalhães, Fátima Silva, Fina D'Armada, Licínia Lopes, Natália Correia e Olga Castro, na obra de autoria conjunta, Rio Tinto – Apontamentos monográficos datada de 1999, consideram que a fundação do mosteiro se deve à influência da família de D. Diogo Tructesindes, entre os anos de 1058 e 1062. Em uníssono, Joaquim Marinho na publicação Rio Tinto – Cidade com nome de rio, chega a apontar o dia exacto de fundação do mosteiro, quatro de Dezembro de 1062 também pela mão dos Tructesindes. Por outro lado, o Historiador Paulo Jorge de Sousa Santos Silva Gomes e Cristina Palmeirão, expõem que o mosteiro terá sido fundado pela influência dos avós do patrono e abade Gomes Jeremias em data anterior a 1058. Ora a certeza neste momento é que o mosteiro apresenta todas a características identificativas de uma edificação religiosa típica de meados do século XI. Além disso, e segundo a figura incontornável do monaquismo medieval, José Mattoso, o mosteiro possuía todas as características de um mosteiro criado por uma família bastante abastada. Seria, portanto, um mosteiro familiar que tinha como principal característica albergar os descendentes num ambiente de clausura afastado do centro do burgo. Mattoso vai mais longe, e refere que o mosteiro seria albergue primordial para jovens excluídas do casamento, sabendo de antemão que o mosteiro iniciou a sua existência como dúplice em meados do século XII, entre 1141 e 1162, passou a ter uma obediência exclusivamente feminina. Joaquim Marinho atesta que em 1147, as monjas agostinhas do Mosteiro de Moreira da Maia foram transferidas para Rio Tinto, aquando da extinção da duplicidade de géneros no mosteiro maiato.
Este mosteiro era beneditino, ou seja, vivia nos trâmites estabelecidos pela regra de São Bento. A regra de São Bento, que serviu como base a todas as regras monásticas subsequentes, e que terá sido idealizada nos meados do século VI, marcou uma mudança nas infra-estruturas religiosas, que passaram de laicas a ser regidas por sacerdotes. Sendo o mosteiro de são Cristóvão de rio tinto unanimemente descrito como um mosteiro beneditino familiar, a organização dos seus líderes era de forma hereditária. As suas abadessas, providentes da oligarquia, tiveram alguma relevância no contexto nacional. Por exemplo, Aldonça Rodrigues de Sá, que viveu e ter os meados do século XIV e início do século XV, foi mãe de um fidalgo, Martim Afonso de Sousa, que combateu em 1415 ao lado do Infante D. Henrique. O seu bisneto, Fernão de Sousa, foi governador de Angola ao passo que o seu trineto, também Martim Afonso de Sousa, foi governador da Índia. Para terminar esta cadeia Tomé de Sousa, também desdente da abadessa Aldonça de Sá foi o primeiro governador-geral do Brasil, em 1549. Esta situação foi possível visto que as leis de celibato que conhecemos hoje em dia só foram implementadas no contexto religioso nacional depois do Concílio de Trento, que terminou em 1563, já o mosteiro tinha sido extinto.
Esta extinção, pedida por D. Manuel I ao Papa em 1516 só foi concedida 19 anos depois já no reinado de D. João III. As freiras de Rio Tinto foram incorporadas no convento de São Bento de Ave-maria, bem no centro da cidade do Porto. Contudo, esta incorporação não foi, de todo, pacífica, visto que a abadessa de Rio Tinto interpôs recurso a Roma, segundo Isabel Maria Ribeiro Tavares de Pinho.
O mosteiro de São Cristóvão de Rio Tinto esteve edificado entre os meados do século XI e os meados do século XVI. Nos seus quase quinhentos anos de história deixou marcas profundas na comunidade. O espaço ocupado pelo mosteiro desaparecido é conhecido como quinta das freiras e alberga a Casa da Juventude de Rio Tinto. Por seu turno o espaço ocupado pela a Igreja Matriz de São Cristóvão de Rio Tinto estaria, também, na área geográfica ocupada pelo Mosteiro de Rio Tinto.
Rui Pais
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