O sistema rodoviário que os romanos criaram para o transporte terrestre estagnou ou mesmo em algumas situações regrediu levando que até à entrada do séc. XIX em Portugal os meios e vias de transportes e comunicações fossem bastante arcaicos. Ao nível das vias de comunicação interna, predominavam estradas fracas, carreiros, barcas de passagem fluviais e na ausência de obstáculos geográficos almocreves, recoveiros e outros carros movidos a tracção animal.
O século XIX foi marcado pela aceleração do tempo, tempo esse que seria exponencialmente acelerado graças ao desenvolvimento das redes de caminhos-de-ferro embora que em Portugal esse fenómeno se fizesse sentir tardiamente. Apesar dos esforços de Costa Cabral, ainda da década de 40, só a segunda metade de Oitocentos, com a Regeneração, circulariam em Portugal comboios sobre carris, imagem de marca do Fontismo.
Seria durante a segunda metade do séc. XIX, entre 1852 e 1893 Portugal dotou-se de mais de dois mil quilómetros de caminhos-de-ferro, que alteraram a forma como se viajava no Reino passando os portugueses a dispor de um novo meio de locomoção que lhes encurtava a distâncias e aumentava o tempo disponível. Isso só foi possível graça as condições de estabilidade politica alcançada com a Regeneração para se iniciar uma política de obras públicas. Ainda que os primeiros carris começassem a ser assentes em 1852 só em 1867 se decreta a construção na província do Minho embora a mesma só tenha iniciado em 1872.
Como se pode ver o assentamento de carris a Norte do Douro fez-se com um atraso de vinte anos em relação ao início do fomento fontista, embora os primeiros projectos e vontades datassem também da década de 50 do séc. XIX. Só em 1864 Lisboa e Gaia ficariam finalmente ligadas por caminho-de-ferro e a chegada ao Porto só aconteceria depois com a construção da Ponte D. Maria Pia em 1877.
Finalmente a 14-6-1872, saía o decreto que ordenava a construção pelo Estado do caminho-de-ferro do Minho, depois de se ter garantido o apoio dos bancos do Porto, Braga e Guimarães, que então se formavam.
Então a 21 de Maio de 1875 foi inaugurada a linha do Minho e pouco tempo depois, em Julho a linha do Douro até Penafiel. Entre as estações e apeadeiros construídos encontra-se a estação de Rio Tinto.
Rio Tinto perde, então, a sua feição rural. Aqui se embarcavam várias mercadorias de Gondomar (carvão de S. Pedro da Cova, milho, mobílias, passageiros). Ao seu redor se instalam vários armazéns (ex. A.F. Cavadas 1908) e varias outras unidades de produção como a Fundição de Sinos – fins de XIX, uma fábrica de moagem em 1905, Fábrica Cabanas de cerca 1920 ou Tecidos Aliança – cerca 1930; são importantes referências de uma certa arqueologia/arquitectura industrial.
A primitiva estação localizava-se no lado oposto ao da actual, virada para a Casa Cavadas. O aumento da circulação de produtos e passageiros tornou este pequeno edifício exíguo e desconfortável, o que levou a que em 1929, fosse feita uma proposta de remodelação das estações de Contumil e Rio Tinto. Foram então aprovadas a realização de várias obras nesta estação, nomeadamente o que refere à construção de uma passagem inferior, o edifício de passageiros, casas de banho, um cais coberto e outro descoberto, uma plataforma de passageiros e a respectiva calçada, muros de suporte e vedações.
Construída em 1935 a actual estação de comboios é uma construção de frontaria simples onde podemos observar um conjunto de painéis policromáticos de grande qualidade artística, da autoria do pintor João Alves de Sá, provenientes da Fabrica Viúva Lamego. Nos azulejos da plataforma, datados de 1936, estão representados cenas da vida do quotidiano local e a lenda da origem do nome de Rio Tinto. Nos azulejos no átrio datados de 1935, surgem belos motivos naturais e coloridos como flores, folhas e pássaros.
A estação possui também uma placa em cerâmica com o seguinte texto “Concurso das Estações floridas – 1º Prémio 1943 S.N.I.”. Iniciado em 1941 no período do Estado Novo, os Concursos de Estações Floridas foram uma promoção do Secretariado Nacional de Informação, que através do Serviço do Turismo, atribuía prémios e distinções às estações ferroviárias portuguesas, que segundo um júri, eram as mais floridas e bem arranjadas a nível de jardins.
As últimas intervenções datam dos anos 90, momento em que fecharam as duas linhas férreas de acesso e se construiu o parque de estacionamento.
Filipe Correia
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